Avós e prazer: Um tabu etarista

27 / 07 / 2023
Saúde e Bem-estar, Sexualidade
Por Maria Fernanda de Amorim Fortuna

Ontem foi comemorado o dia dos avós. 

Mais do que prestar uma homenagem – extremamente válida, na minha ótica – aos que vieram antes de nós, creio que haja muito o que se refletir sobre gerações. 

Inicialmente vejo como imperativa a necessidade de honrarmos o nosso passado. O que aconteceu antes mesmo de existirmos. Sem o que aconteceu ontem, não teríamos o hoje. E gostando ou não, ainda somos o resultado de muito do que essas pessoas acreditaram, fizeram e representaram. É aquela história de “a fruta não cai longe do pé”. Essa frase de efeito não é literal. Mas via de regra, funciona. 

Conhecer nossa história ajuda muito no processo de entendermos a nós mesmas. E quando pensamos em relacionamentos, amor e sexualidade encontramos muitas respostas em nossos avós, pais e mães. 

Ainda é um tabu muito grande falar de sexualidade com os mais velhos. Mas porque temos esse tipo de trava? Posso citar aqui inúmeras motivações. A socialização que tivemos ensina que alguns assuntos são privados e não devemos conversar com os mais velhos. A religião, que associa mães e avós a figuras assexuadas, é outro exemplo. 

Independentemente da sua realidade pessoal, algo é fato nessa pluralidade de opções: todos nós viemos a este mundo a partir do sexo. Pode ser um sexo ruim ou maravilhoso. Sem exceção, todos viemos a partir dele. 

Mas Maria, qual a necessidade em falar disso agora? Eu acredito que seja importante carregar esses elementos para a nossa consciência. Selecionar assuntos difíceis para deixar de canto no nosso subconsciente não desenvolve pensamento crítico. 

E são essas reflexões poderosas que nos fornecem insights de autoconhecimento. É a autorreflexão, o pensamento crítico que vai elevar a sua forma de conviver consigo mesma e também com o mundo à sua volta. 

Ouço muito falar em “desrespeito” aos mais velhos quando proponho o assunto da sexualidade na terceira idade. Desrespeito seria não falar no tema. Ignorar que somos pessoas e que por estarmos vivas somos capazes de sentir e merecedoras de sentir boas sensações me parece um desrespeito ainda maior. 

Religiosamente a reflexão se torna ainda melhor, e não importa qual seja o seu credo. Segue o fio: se Deus nos criou em sua graça, toda a sua perfeição está em nós. Nosso corpo é um organismo autônomo capaz de feitos incríveis. Gerar a vida é, a meu ver, o mais mágico deles. 

Em sânscrito, vulva/vagina é denominado yoni, que numa tradução significaria portal sagrado. Trazer à vida realmente é algo muito grandioso. Honrar o fato de que o sexo foi “feito” para criar a vida, demonstra carinho com o nosso passado. 

É claro que existem famílias e famílias. Há pessoas que simplesmente não permitem determinados assuntos. Respeitemos sempre os que vieram antes de nós. Mas, se sua família for um pouco mais receptiva a conversas de intimidade, indico fortemente a pauta da sexualidade. 

Falar sobre temas como: a primeira vez, paixão no início do relacionamento, casamentos que entraram na rotina, são assuntos que oferecem oportunidade de se aprender e também ensinar. 

Pessoalmente, gosto também de lembrar as minhas amigas e mentoreadas: não é porque se está com tantos anos que se está morta. Você merece prazer independentemente da idade. E seu corpo é capaz de oferecer sensações maravilhosas. Precisamos apenas estar abertas a esses momentos especiais. 

Convenhamos que o mundo mudou muito. Muitas de nós precisaram aprender com amigas ou revistas o básico (muitas vezes até equivocado) sobre sexualidade. Por puro tabu. No passado, falar de determinados assuntos era atestado de vulgaridade. 

Já conseguimos ultrapassar muitas dessas deficiências. Hoje temos programas em que desconhecidos perguntam abertamente a profissionais suas dúvidas mais inquietantes. Em rede nacional! Há podcasts, perfis no Instagram e colunas como esta. 

Desejo que das nossas tradições aprendidas de geração em geração possamos manter as melhores. Um carinho, uma fala reconfortante, uma receita ou um jeitinho único de tratar determinada coisa. Espero que possamos diminuir a distância entre o que realmente importa, que é sentir-se bem em si mesma. 

Todas merecemos a alegria de ser feliz no corpo que habitamos. Espero que possamos também auxiliar quem amamos nessa mesma jornada, ela é importante e complexa, mas muito gratificante. 

Com amor, 

Maria.

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