CREATINA NA TERCEIRA IDADE: Cientistas destacam a importância do suplemento favorito entre frequentadores de academias na saúde muscular e cognitiva no envelhecimento

19 / 04 / 2024
Produtividade, Saúde e Beleza, Saúde e Bem-estar
Por Aline Santos

O envelhecimento populacional e o aumento da expectativa de vida é uma realidade crescente em todo o mundo, impulsionada por avanços na medicina e mudanças nos padrões de vida. Segundo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), o número de pessoas com 65 anos ou mais no mundo deve dobrar até 2050, passando de 761 milhões em 2021 para 1,6 bilhão em 2050. No Brasil, de acordo com o Censo Demográfico de 2022, a população idosa já representa 10,9% da população, retratando um crescimento de 57,4% de 2010 para 2022.

À medida que a expectativa de vida aumenta e a proporção de idosos na população cresce, surge a necessidade de garantir um envelhecimento saudável e sustentável, que permita às pessoas vivenciarem essa fase da vida com dignidade e qualidade de vida. Torna-se importante adotar medidas que promovam o bem-estar da população mais velha, proporcionando-lhe não apenas longevidade, mas também vitalidade e autonomia. 

Incorporar estratégias nutricionais e hábitos de vida saudáveis é um caminho promissor para a manutenção da saúde e a mitigação dos efeitos do envelhecimento. E é aqui que entra a creatina como um potencial aliado para a saúde e o desempenho físico de indivíduos mais velhos.

As mudanças do envelhecimento

O processo de envelhecimento é marcado por uma série de mudanças progressivas no organismo, que afetam tanto a estrutura quanto a função dos sistemas do corpo. Uma das principais consequências desse processo é a perda gradual no número de células e de fibras musculares, levando a uma diminuição nas respostas fisiológicas dos órgãos e sistemas. Essas mudanças ocorrem de forma interligada, já que a instabilidade em um sistema pode promover o desequilíbrio nos demais, criando um cenário propício para o surgimento de patologias crônicas.

No sistema musculoesquelético, essas alterações se manifestam através da perda de massa óssea e muscular, levando a uma redução na força, potência, resistência e flexibilidade muscular. Esses déficits funcionais comprometem a autonomia do indivíduo e aumentam o risco de lesões e complicações relacionadas à idade, como a sarcopenia. Esta impacta as atividades cotidianas, além de resultar em desfechos desfavoráveis em pós-operatórios, aumentando o risco de complicações, mortalidade e morbidade em procedimentos cirúrgicos.

As mudanças no organismo decorrentes do envelhecimento têm relação direta com fatores como o estado nutricional e o estilo de vida adotado pelo indivíduo. A redução da atividade física ao longo dos anos, juntamente com a presença de comorbidades, mudanças na alimentação e alterações na composição corporal, favorecem o surgimento de condições fisiológicas associadas ao envelhecimento. Além disso, a diminuição da densidade mineral óssea pode resultar em dores, desconforto, fraturas ósseas e desgaste articular, prejudicando a mobilidade e as funções cotidianas básicas e, consequentemente, impactando a qualidade de vida dos idosos.

Diante dos desafios do envelhecimento, a suplementação de creatina aparece como uma solução promissora. Estudos têm demonstrado as contribuições da creatina para a população idosa, em relação ao bem-estar e à maior capacidade funcional de realizar atividades cotidianas. Mas o que é a creatina? Como ela pode ajudar as pessoas mais velhas?

Além da academia: Os diversos benefícios da creatina para a saúde

A creatina é um aminoácido naturalmente presente no organismo humano, sendo encontrada no músculo esquelético. A creatina é utilizada como estoque energético, sobretudo durante períodos de alta demanda energética, como na prática de exercícios físicos intensos, além de auxiliar no ganho de resistência e força muscular. Sabe-se que ao longo do tempo perdemos aproximadamente 1,7% de creatina diariamente, sendo necessária a sua suplementação.

A creatina pode ser obtida por meio de alimentos de origem animal ou através de suplementos. Apesar de ser amplamente suplementada, algumas dúvidas e equívocos cercam seu uso. Ao contrário do que muitos pensam, a creatina não tem relação com esteróides anabolizantes, tendo uma estrutura química diferente. Quanto aos possíveis danos aos rins, em pessoas com rins saudáveis, a creatina e a fosfocreatina são convertidas em creatinina, que é filtrada e excretada pelos rins sem causar danos.

A creatina tem ganhado cada vez mais destaque, sendo amplamente reconhecida por seus benefícios na saúde e no desempenho físico. Sua capacidade de aumentar as concentrações musculares e fornecer energia rapidamente tem sido particularmente valorizada no meio esportivo. No entanto, evidências sugerem que seus benefícios se estendem para além dos músculos, sendo presenciados também nos ossos e cérebro. Em idosos, é crescente o interesse por entender o seu potencial em promover saúde e funcionalidade.

O potencial terapêutico da creatina na terceira idade

A suplementação de creatina pode conferir inúmeros benefícios à população idosa, sem apresentar riscos adversos à saúde, tornando-se uma estratégia segura para o tratamento e a prevenção dos acometimentos comuns do envelhecimento. 

O mais óbvio? A suplementação de creatina demonstra efeitos positivos na massa e função muscular em idosos, resultando em melhorias na composição corporal, como aumento de massa magra e força muscular. Especialmente quando combinada com treinamento de resistência, a creatina tem mostrado aumentar ainda mais a força e a funcionalidade muscular. 

Um estudo envolvendo idosos com idade média de 61 anos mostrou que, a longo prazo, o treinamento de resistência realizado três vezes por semana, juntamente com a suplementação diária de creatina na dose de 100 mg/Kg de peso corporal, apresenta resultados promissores. Os participantes apresentaram uma redução nos níveis de estresse oxidativo no plasma sanguíneo, além de um aumento nos agentes de defesa antioxidante e na força muscular. Observou-se também uma melhoria significativa na disposição e na qualidade de vida desses idosos.

A creatina não somente melhora o desempenho físico, como também auxilia na prevenção e/ou redução da gravidade de lesões. A sua suplementação ainda pode desacelerar a perda mineral dos ossos e influenciar na renovação óssea, o que ajuda a prevenir osteoporose e reduzir o risco de fraturas em idosos.

A suplementação de creatina se mostra particularmente benéfica no tratamento e prevenção da sarcopenia, podendo neutralizar vários de seus aspectos. Isso acontece por meio de diferentes mecanismos, incluindo a aceleração da regeneração de ATP (adenosina trifosfato – principal molécula de energia) durante momentos de alta demanda de energia, funções anabólicas e anticatabólicas diretas (promovem o crescimento muscular e evitam sua degradação), além de aumentar a capacidade de regeneração muscular, graças ao impacto positivo na disponibilidade de células-tronco musculares.

Outro ponto que colocou a creatina em evidência, tanto em pesquisas científicas quanto no mercado mundial de suplementação esportiva, foram os seus efeitos neuroprotetores. Pesquisas sugerem que a suplementação de creatina ajuda a retardar o declínio da função cognitiva em idosos e oferece potencial terapêutico em condições neurológicas como atrofia muscular, doença de Parkinson e lesão cerebral traumática. Os estudos revelam que a creatina é capaz de reduzir a atrofia cerebral e a morte celular programada, diminuir os níveis de glutamato (um neurotransmissor que em excesso pode ser tóxico) no cérebro e proteger contra a perda de neurônios e dopamina. Esses efeitos combinados demonstram a eficácia da creatina na prevenção e tratamento de doenças neurológicas.

Depois de tudo isso, fica evidente o potencial da creatina para promover uma série de benefícios em pessoas idosas. Mas lembre-se de definir os seus objetivos e necessidades para utilizar a creatina adequadamente e maximizar os seus resultados de acordo com os seus propósitos. A suplementação de creatina com uma alimentação equilibrada e a prática regular de exercícios físicos, visando aprimorar não apenas a saúde muscular, mas também a saúde geral e a qualidade de vida.

Referências

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS IBGE. Censo 2022: número de pessoas com 65 anos ou mais de idade cresceu 57,4% em 12 anos. 2023. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/38186-censo-2022-numero-de-pessoas-com-65-anos-ou-mais-de-idade-cresceu-57-4-em-12-anos. Acesso em: 03 abr. 2024.

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