Fim de uma Fase ou Início de Outra: O que a Menopausa Representa?

12 / 07 / 2023
Saúde e Bem-estar, Sexualidade
Por Maria Fernanda de Amorim Fortuna

Ser mulher não é fácil. Passamos por diversos marcos na nossa constituição pessoal, e a menarca é um deles. Muito se fala sobre tornar-se mocinha. Embora muitas famílias não tenham um diálogo aberto à iniciação sexual, essa fase da vida é um divisor de águas. Passamos da infância à adolescência, e logo em seguida nos tornamos adultas. Nosso ciclo hormonal está presente em quase toda a vida, são décadas de convivência. Seja uma boa ou má relação, invariavelmente ela existe. Mas, e quando tudo isso acaba?

Não estou falando de morte, estou falando do climatério. Também conhecido como menopausa, esta fase marca o fim da nossa idade reprodutiva com o cessar da ovulação. Mas muito mais acontece em virtude deste – nada – simples fato. Alterações de humor, sensibilidade, calores, hábitos de sono e alimentares, fadiga, libido. Você praticamente vive uma adolescência 2.0 em um corpo de 40 ou 50 anos. 

Se foi difícil compreender sua existência por volta dos 12 quando os hormônios começaram a agir, deixá-los ir embora agora, depois de todos esses anos de amor ou ódio é um desafio relatado pela maioria das mulheres quando enfrentam a menopausa. Curiosamente esse é um assunto velado em muitas rodas de amigas e familiares, restando aos ginecologistas, endocrinologistas, psicólogos e sexólogos a saída e auxílio a tantas demandas que passam a ser centrais.  

E são equipes multidisciplinares que poderão de fato ajudar. Como eu disse, as mudanças são inúmeras. Mas assim como na adolescência, cada mulher se sente de uma forma única. Os famosos fogachos podem tirar o sono de uma, enquanto nem serão percebidos por outra. Nossa individualidade demandará a necessidade ou não de uma reposição hormonal, que é uma das saídas queridinhas para atenuar os indesejados incômodos

Dentre as mudanças que acontecem, a queda da libido está entre os fatores que mais alteram a sensibilidade feminina. Se por anos convivemos com nossos desejos, para muitas mulheres uma relação já conturbada, para outras uma relação de amor e paixão, aqui tudo muda. Será necessário um reposicionamento em relação ao próprio corpo, desejo e prazer. Inclusive como compartilhamos isso com nossos parceiros ou parceiras. 

Sim, ainda há que se considerar como as pessoas que estão à nossa volta também são impactadas. Lembrá-los de que esta fase é um processo natural da vida será crucial. Da mesma forma que a família muda e se adequa a chegada de um bebê, ou se habitua a rotina com um adolescente, o climatério também é um marco na vida das mulheres, merecendo toda a visibilidade e compreensão que demanda. 

Inclusive pontuo aqui a importância destes dois fatores: visibilidade e compreensão. Por serem assuntos exclusivamente femininos, muitas vezes tais pautas são minimizadas, tidas como assunto exclusivo de mulheres, a ser tratado exclusivamente por mulheres. Essa ideia além de equivocada também é problemática. Vivemos em sociedade, em comunidade. Velar temas como segredos apenas dificulta o compartilhamento de informações. 

Eu sei que muitas de nós mal conseguimos falar a palavra menstruação, quem dirá dizer que está na tão temida menopausa. Não vou sugerir que se assuma uma postura incompatível com quem se é. Meu convite aqui é pra quem não tem tais constrangimentos: é sobre criar espaços de diálogo. É sobre acolhimento. Somos mulheres e já somos cobradas em excesso por diversos fatores. Construir espaços confortáveis, de nós para nós, pode ser mais positivo do que se imagina. 

Recriar nossa relação com nossos corpos, e com nosso desejo já é um desafio. Tudo muda, somos todos regulados por hormônios. E no caso feminino, temos uma dança sincronizada de diversos hormônios na maior parte da nossa existência. O aumento de energia que temos na fase lútea, nossa sensibilidade à dor e maior instabilidade emocional na fase pré menstrual, tudo é regulado por hormônios. Quando eles partem, até a libido de três Anittas que muitas relatam ter na fase ovulatória pode ir embora. 

A boa notícia é que embora as mudanças aconteçam pela ausência dos hormônios, também podem ser eles a resposta para tais mudanças. Atualmente a TRH, ou Terapia de Reposição Hormonal é cada vez mais evoluída para a minimização de efeitos indesejados e aumento da qualidade de vida, incluindo a manutenção da libido. Na maioria dos casos são utilizados estrógenos e progesteronas sintéticos. E hoje há inúmeras formas de administração, incluindo cremes para absorção através da pele. 

Independentemente de sentir mais ou menos sintomas, de buscar ou não uma TRH, o que importa é que a partir da menopausa uma nova fase nasce. Houve um tempo em que se parabenizava a menina na menarca. Ali ela deixava de “ser menina” para tornar-se moça. Aqui uma parte de nós também vai ficar para trás. A moça vai embora para dar espaço à grande mulher que vive aqui dentro. Creio que todas nós merecemos viver esse momento – que afinal de contas realmente acaba sendo de morte e renascimento – com muito respeito, honra e amor. É o meu desejo a todas. 

Com carinho e amor, 

Maria.

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